História do Berganês
The
history of Berganês, ecotype sheep of semi-arid pernambucano
NOGUEIRA FILHO, Paulo Alves1; YAMAMOTO, Sandra Mari2
Área Temática: PRODUÇÃO DE RUMINANTES EM SISTEMAS SEMIÁRIDOS
Resumo
Durante a execução dos trabalhos de Assistência
Técnica e Extensão Rural oficial do estado de Pernambuco, no ano de 2007, no
município de Dormentes, PE, nos deparamos com ovinos de porte grande, produtivos e rústicos. No sentido de investigar a origem
desse ecótipo, a pesquisa foi realizada entrevistando-se, principalmente
os descendentes dos produtores que realizaram os primeiros cruzamentos, o qual
iniciou-se na década de 80, por um grupo de
agricultores visando melhorar um pequeno rebanho de ovelhas sem raça definida.
Foram adquiridos ovinos das raças Santa Inês e Bergamácia e realizados
sucessivos cruzamentos. Em 2003, os
ovinos já possuíam padrões homogêneos, os quais foram denominados Berganês. Dados
dos animais campeões em feiras, dos anos de 2006 a 2015 foram obtidos e
observou-se que esses ovinos possuem, em
média, 4,5 kg de peso ao nascer e 12 kg aos 30 dias de vida, podendo atingir de
130 a 140 kg com 18 a 24 meses, com excelente conformação de carcaça e marmorizada.
Palavras-chave:
Caatinga; Extensão
Rural; Ovinocultura; Sustentabilidade.
Abstract
During
the execution of the official Technical Assistance and Rural Extension works in
the state of Pernambuco, in 2007, in the municipality of Dormentes, PE, we come
across large, productive and rustic sheep. In order to investigate the origin
of this ecotype, the research was carried out by interviewing, mainly the
descendants of the producers who made the first crosses, which began in the
1980s by a group of farmers aiming to improve a small herd of sheep without
defined race. Santa Inês and Bergamácia sheep were obtained and successive
crosses were carried out. In 2003, sheep already had homogenous standards,
which were denominated Berganese. Data from the champion animals at fairs from
the years 2006 to 2015 were obtained and it was observed that these sheep have,
on average, 4.5 kg at birth and 12 kg at 30 days of life, and can reach 130 to
140 kg with 18 to 24 months, with excellent conformation of carcass and marble.
Keywords: Caatinga; Rural
Extension; Sheep farming; Sustainability.
Contexto
O semiárido nordestino possui na sua formação pedológica
uma diversidade de tipos de solos, com se fosse uma “colcha de retalhos”, esses
apresentam limitações como a baixa profundidade e muitas vezes, alta
salinidade. Devido aos déficits hídricos acentuados, com ocorrência periódica
das secas, vegetação hiperxerófila é dificultoso cultivar vegetais de elevado
valor comercial a aptidão para a pecuária de bovinos, caprinos e ovinos são as
mais sensatas culturas a serem exploradas. Outro fator para a escolha dessas
criações é o tamanho dos estabelecimentos agropecuários dos agricultores
familiares que possuem área média de 17,3 ha (IBGE, 2017).
Em
2007, durante a execução da atividade de Assistência Técnica de Extensão Rural
(Ater), percebeu-se, no município de Dormentes, PE, a existência de um ecótipo
(variante genética de uma espécie
adaptada a uma determinada região geográfica) da espécie ovina, de porte grande, produtivo e rústico.
Em Dormentes, município do semiárido pernambucano, desde
o ano 1987 até os dias atuais, diversos produtores rurais vêm realizando
cruzamentos entre ovinos das raças Santa Inês e Bergamácia com a intenção de
produzir animais maiores e mais pesados para produção de carne. Os resultados
destes cruzamentos adquiriram aspectos únicos de um grupo racial e com
características próprias. Os ovinos do
ecótipo, denominado Berganês, vêm despertando interesse de produtores de toda a
região por serem animais de alta capacidade, produtiva e adaptados ao sistema
de criação em caatinga.
Descrição da experiência
A
pesquisa investigativa foi realizada no município de Dormentes, estado de
Pernambuco, situado na região do Sertão do São Francisco, no período de outubro
de 2012 a abril de 2013, através de entrevistas semiestruturadas com os
produtores. Os entrevistados foram os descentes do Sr. Evércio Macedo e também
o Sr. Leonardo Macêdo (Seu Liô), considerados os produtores que realizaram os
primeiros cruzamentos que deram origem ao ecótipo Berganês. Foram coletados os
depoimentos, transcritos e registrados.
Foram,
também, coletados dados como peso, idade, sexo, dos animais campeões, das
feiras agropecuárias do município, denominada de Caprishow dos anos de 2006 a
2015. Da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Dormentes (Asccod) foram
coletados os registros, peso ao nascer, peso ao desmame, peso nas diferentes
faixas etárias e sexo.
Na
Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro), foram
retirados os dados das Guias de Transito Animal (GTA) de saída para outros
estados do Nordeste.
Nos
relatos da apuração dos dados das raças ovinas envolvidas, apresentado nas
entrevistas dos produtores, foi realizado o cálculo, para apresentar o possível
grau de sangue obtido desse ecótipo,
relatados desde os anos de 1988 a 2003.
Resultados
A origem do ecótipo Berganês se deu na década de 80, por
um grupo de agricultores com dificuldades na agricultura de subsistência, no
semiárido pernambucano, pois a maioria das propriedades era destinada às plantações
de milho, feijão, mamona e algodão e que as sucessivas secas não permitiam uma
produtividade satisfatória dessas culturas, perceberam a necessidade de ter um
complemento de renda para o sustento da família.
Então iniciaram-se a atividade da ovinocultura, empregando
o sistema de agricultura e produção familiar delimitou-se uma pequena área na
propriedade para plantação do capim Buffel como suporte forrageiro a fim de melhorar
o pequeno rebanho de ovelhas sem raça definida (SRD). Em 1987, foram adquiridos
novos ovinos das raças Santa Inês e Bergamácia e realizados sucessivos
cruzamentos aleatórios entre o grupo de ovelhas mestiças de Santa Inês. A
partir do ano de 2003, os ovinos já eram considerados de padrões raciais homogêneos,
pois apresentavam herdabilidade genética a seus descendentes e à medida que
cruzavam entre si originou-se um ecótipo denominado Berganês. Esses ovinos possuem, em média, 4,5 kg de peso
ao nascer e podem alcançar até 12 kg no primeiro mês de vida. Dos 18 aos 24
meses chegam a atingir de 130 kg a 140 kg, oferecendo um rendimento de 65 a 70 kg
de carcaça, superando, em até 30%, os índices zootécnicos em relação à raça Santa
Inês. Assim
mostrando ser um animal precoce, que pode atender a demanda de marcado, que na
região é de um animal com 6-8 meses, pesando 14 kg de peso carcaça.
A caracterização padrão do ecótipo
Berganês demonstrou que os animais são diferentes em relação as demais raças
existentes no Nordeste, apresentando chanfro convexo, orelhas grandes e
pendulosas, ausência de chifres, cascos e mucosas escuras, pelagem solidas e
deslanados.
O resultado alcançado dos cruzamentos realizados pelos
produtores envolvidos foi um animal com possível grau de sangue de 41,21% oriundo da raça Bergamácia e 58,79% da raça Santa Inês. Isso após nove gerações de
descendentes, conforme demostrado na Figura 1. O ecótipo apresenta notadamente aptidão para a produção de carne, com
excelente conformação de carcaça, porte grande, precoce, rústico e com carne
marmorizada, refletindo na qualidade organoléptica desta, além de possuir um
sabor único da caatinga.
Hoje
já existem criadores desse ecótipo nos estados de Pernambuco, Piauí, Maranhão,
Paraíba e Bahia, com espécimes de elevado potencial econômico para o produtor,
pois esses podem ser comercializados como genética.
O
ecótipo de ovinos Berganês são animais promissores com bom desempenho zootécnico,
demostrando rusticidade ao bioma caatinga. O cruzamento com a raça de origem sul-africana,
Dorper, é uma realidade na região, originando animais com excelente conformação
de carcaça e com uma carne com qualidades organolépticas únicas.
Figura
1: Esquema de cruzamento e acasalamentos do ecótipo Berganês, realizado pelos
produtores do município de Dormentes-PE, no período de 1988 a 2003.
Referências bibliográficas:
CALLOU,
A. B. F. Extensão Rural: polissemia e
memória. Recife: Bagaço, 2007.
GUIMARÃES
FILHO, A Caprino-Ovinocultura Como
Instrumento de Fortalecimento do Agricultor de Base Familiar do Semi-Árido.
In: Semana da Caprinocultura e Ovinocultura Brasileiras. 4. 2004. Sobral.
Anais....Sobral: 2004.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Perfil municipal.
Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pe/dormentes/panorama
>. Acesso em: 25 set. 2017.
______. Pesquisa Pecuária Municipal. Disponível em: <
https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3939>. Acesso em: 24 set. 2017.
______.
Censo Agropecuário 2006 - Segunda
apuração. Disponível em:
https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-agropecuario/censo-agropecuario-2006/segunda-apuracao#caracteristicas-dos-estabelecimentos-agropecuarios>
Acesso em: 12 out. 2017.
MARIANTE, A. S.; CAVALCANTE, N.. Animais do descobrimento: Raças domesticas da historia do Brasil. 2.ed.
Brasília: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 2006. 274 p.
MOURA NETO, J. B.; MOREIRA, J. N.; GOUVEIA, J. J. S.; NOGUEIRA FILHO, P. A; SILVA JUNIOR,
S. S.; RIBEIRO, M. N. Morphologic Characterization
of Berganês Sheep. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 53.,
2016, Gramado. Anais... Gramado: SBZ, 2016.
MOURA NETO, J. B.; GOUVEIA, J. J. S.; REIS, J. G. G.; COSTA, M. G.
O.; COELHO, J. A. L.; MACEDO, J.; MACEDO, L. B. Distribuição territorial e
populacional de ovinos do ecótipo 'BERGANÊS' no município de Dormentes-PE. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 25., 2015, Fortaleza. Anais... Fortaleza: ABZ, 2015.
PERNAMBUCO,
Instituto Agronômico de Pernambuco. Histórico
e Missão do IPA. Disponível em:
<http://www.ipa.br/novo/apresentacao>. Acessado em 31 jul. 2017.
______. Agência Estadual de Planejamento e
Pesquisas de Pernambuco.
Disponível em:
<http://www.bde.pe.gov.br/ArquivosPerfilMunicipal/Dormentes.pdf.pdf>
.Acessado em 24 set. 2017.
RODERO, E;
HERRERA, M. El concepto de raza. Un
enfoque epistemológico. Revista Archivos de Zootecnia, v. 49. p.5-16, 2000.